Catecismo da Igreja Católica, nº 1809
“A temperança é a virtude moral que modera a atração pelos prazeres e procura p equilíbrio no uso dos bens criados. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos dentro dos limites da honestidade. A pessoa temperante orienta para o bem seus apetites sensíveis, guarda uma santa discrição e não se deixa levar a seguir as paixões do coração.”
Podemos dizer com outras palavras, que a temperança estabelece o equilíbrio entre a dimensão espiritual e a dimensão corporal do homem. Por ela a razão e a vontade “modera” as tendências instintivas da natureza e a ânsia de prazer. São Tomás de Aquino explica que há dois sentidos a serem analisados quanto a essa virtude, o mais “geral” seria o sentido de moderação ou comedimento imposto pela razão às ações e paixões humanas. O segundo em sentido “estrito”, tem como finalidade moderar a atração dos desejos e prazeres sensíveis que fortemente nos atraem (Suma Teológica, 2-2, 141, 2c).
Moderar não é anular
Tomando por base a definição do catecismo sobre a temperança, convém esclarecer que o cristianismo não é inimigo do corpo, nem do prazer. Basta pensar que Deus assumiu um corpo humano em Jesus Cristo. Justamente porque o corpo é criado por Deus, é necessário mantê-lo equilibrado dentro de seu bem razoável, a fim de que nem abusos, nem as deturpações, nem as loucuras o estraguem. Está é a função da virtude da temperança.
A intemperança reflete um tipo de desordem como:
a) transformar aquilo que existe para servir a vida – o alimento e a bebida – em instrumento para o mal, que leva a perder a forma física e psíquica;
b) como o sexo, que é a manifestação santa de amor entre os esposos e colaboração de Deus criador, como mero gozo sem responsabilidade, ou como crime, ou adultério e traição. Comida, bebida, sexo, são , no plano de Deus, “servidores” da vida e do amor.
Quando descambam e se tornam um vício egoísta, uma obsessão doentia, então o servidor vira “amo e senhor” que escraviza. O viciado alega que é livre, mas engana-se. Quando pratica os vícios ligados ao prazer físico, diz que faz o que quer, porque é livre, mas só faz o que não consegue deixar de fazer: não tem mais o poder de “não querer”, tornou-se escravo.
A temperança exige o domínio sobre os desejos egoístas e abusivos. Esse domínio é conquistado pelo amor ao bem, pedindo auxílio divino e pela imprescindível mortificação (com atos frequentes de autodomínio).
“A temperança não supõe limitação, mas grandeza. Há muito maior privação na intemperança, porque o coração abdica de si mesmo para ir atrás do primeiro que lhe faça soar aos ouvidos o pobre ruído de uns chocalhos de lata”. (A conquista das virtudes. Francisco Faus)
“Julgo que esta virtude exige de cada um de nós uma especial humildade quanto aos dons que Deus colocou na nossa natureza humana. Diria, “a humildade do corpo” e a “do coração”. Esta humildade é condição necessária para a “harmonia” interior do homem: para a beleza “interior” do homem. Cada um reflita bem neste ponto, em especial reflitam os jovens, e mais ainda as jovens, na idade em que tanto se tem a peito ser belo ou bela, para agradar aos outros! Recordemo-nos que o homem deve ser belo sobretudo interiormente. Sem esta beleza, todos os esforços que tenham em vista só o corpo não farão — nem dele nem dela — uma pessoa verdadeiramente bela.” Papa João Paulo II, 22/11/1978, A virtude da Temperança.
(Créditos da imagem: As virtudes cardeais descritas no túmulo do Papa Clemente II na Catedral de Bamberg)
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