Augusta Rainha!
“O homem que vai ao encontro de Deus, deve aprender a conhecer-se, deve conhecer a si mesmo em suas aspirações mais íntimas. Deve buscar a Deus com sua realidade precisa, e não com uma máscara. Ele deve crescer por dentro, com o seu próprio esqueleto, e não pedir força a uma armadura.” (Papa Francisco)
Se hoje Jesus viesse ao seu encontro e perguntasse: “Quais são as principais características de sua alma que Deus Pai te deu”, você saberia responder com prontidão e sem dúvidas? Saberia identificar quais são os seus pontos fortes e fracos e como os têm usado na sua relação com Ele e com os outros? Se, no entanto, Jesus pedisse: “Filho, o que tua alma mais necessita hoje para ser mais maduro?”, saberias o que responder?
A formação da pessoa humana, cristã, católica, para ser integral, precisa contemplar quatro campos: espiritual, humano, pastoral e intelectual. O conteúdo a ser apresentado a partir dessa semana, sobre os 8 tipos de temperamentos, faz parte do campo da formação humana e tem o objetivo de levar a um amadurecimento pessoal.
De fato, a pessoa madura, entre outros pontos, é realista (sem ser pessimista). Conhece a si mesma e busca formar-se para vencer os obstáculos e dificuldades que se apresentam e precisam ser enfrentados.
Um dos meios para alcançar a maturidade humana, e para colaborar na elaboração de um programa de vida espiritual realista e exigente, é descobrir o seu temperamento.
Porém, antes de adentrar nessa viagem de descoberta de si mesmos, é necessário primeiramente fazer uma distinção importante:
Personalidade – conjunto de características irrepetíveis, físicas, psíquicas, sociais… Aquilo que é refletido ao exterior.
Temperamento – conjunto de características herdadas/recebidas geneticamente; conjunto de inclinações inatas, próprias de um indivíduo.
“Entende-se por temperamento a totalidade de suas atitudes inatas que constituem sua armadura natural. O temperamento é o conjunto formado pelo jogo das heranças procedentes de antepassados remotos ou próximos. É a natureza básica, a espontaneidade, o primeiro impulso, o conjunto de dinamismos mentais, as tendências profundas de disposições congênitas, de possibilidades reais.” (Rossetti, 1965).
Caráter – o mesmo temperamento, mas já educado.
É importante ter em mente que o temperamento é recebido de Deus e permanece o mesmo por toda a vida. Pode-se e deve-se trabalhar os pontos de fraqueza do temperamento, formando, assim, o caráter, mas as marcas temperamentais sempre estarão presentes, até o dia de ir ao encontro de Deus. No caminho de identificação do próprio temperamento, será de grande ajuda abrir-se à graça de Deus e lutar mais ainda pela santidade, oferecendo ao Espírito Santo uma base humana mais madura e sólida.
Porém, o que se descobrir de acordo com o temperamento (pontos a melhorar e pontos a fortalecer), não pode ficar somente no papel, mas deve ser traduzido num programa formativo pessoal, propondo-se propõe vários pontos de trabalho, propósitos a serem alcançados. Ou seja, ter como finalidade o autoconhecimento para crescer em maturidade diante de Deus, dos homens e de si mesmos. O trabalho formativo não pode ficar longe da intimidade com Deus. É necessário que ele nasça na oração e termine na oração, lembre-se sempre de colocar a “mão na massa” naquilo que se propõe a melhorar (defeitos) e potencializar (qualidades). Formar-se por Cristo, com Cristo e em Cristo. Formar-se por Maria, com Maria e em Maria!
É provável que você já tenha ouvido falar sobre os temperamentos como sendo quatro. Porém, utilizam-se os oito possíveis temperamentos, definidos por Le Senne, Gaston Berger e, depois, pelo Pe. Luigi Maria Rossetti no livro Prática de Caracterologia religiosa, escrito em 1961, no qual essa formação está baseada. São eles: Colérico, Apaixonado, Nervoso, Sentimental, Sanguíneo, Fleumático, Amorfo e Apático.
A teoria dos temperamentos está ligada à tradição filosófica do número 4, de Pitágoras (572-497 a.C. – Samos), e da teoria cosmológica dos quatro elementos, de Empédocles de Ácragas (490-430 a.C.). Este filósofo sugere que toda a substância é composta por quatro elementos: ar, terra, fogo e água. Aristóteles (384 a.C.), além de concordar com os quatro elementos, acrescentou que eles possuem propriedades básicas, a saber: ao fogo, estão associadas a secura e o calor; ao ar, o calor e a umidade; à água, a umidade e o frio; e à terra, o frio e a secura.
O médico Hipócrates (460-377 a.C.) relacionou esta teoria cósmica à saúde, criando a teoria dos humores (ou dos temperamentos). Ele defendia haver quatro humores físicos – sangue, bílis preta (atrabílis), bílis amarela (bílis) e fleuma (linfa) – e estes estavam respectivamente ligados a quatro temperamentos da personalidade, a saber: temperamento sanguíneo, de reações rápidas e débeis; temperamento melancólico, nervoso ou atrabilioso, de reações lentas e intensas; temperamento colérico ou bilioso, de reações rápidas e intensas; e temperamento fleumático ou linfático, de reações fracas e lentas. A teoria, portanto, afirma que a química do corpo determina o tipo de temperamento.
Esta teoria, depois difundida pelo greco-romano Galeno de Pérgamo (129-199 a.C.), perdurou por mais de 2.500 anos. Com a evolução da psicologia, Le Senne passou de quatro para oito temperamentos possíveis.
Será determinada a graduação das três características que compõe o seu temperamento: Emotividade, Atividade e Repercussão (Primária ou Secundária). São essas as três propriedades constitutivas do temperamento.
Emotividade: é a propensão de vivenciar os acontecimentos de maneira mais ou menos emotiva, podendo classificar as pessoas em “emotivas” ou “não-emotivas”; ela “mede a sensibilidade diante de um estímulo que toque o homem de perto, quer seja interno (imagem-pensamento-lembrança) ou externo” (Mounier).
Atividade: a inclinação e o gosto pela ação, havendo os “ativos” e os “não-ativos”. A atividade, neste sentido, refere-se ao gosto pela ação em si mesma; não deve ser confundida com situações em que a ação é apenas uma consequência da emotividade do indivíduo. Uma pessoa perseguida por uma fera é ativa, não pelo gosto da ação, mas pela emotividade (medo) da situação, por exemplo;
Ressonância: toda experiência (isto é, a representação da experiência na mente) provoca no indivíduo uma “ressonância”, ou seja, efeitos mentais (como pensamentos, emoções etc.). Os efeitos que se referem a eventos que estão se realizando (eventos presentes) fazem parte da função primária da representação; efeitos ligados a fenômenos passados fazem parte da função secundária. A ressonância indica a tendência do indivíduo de viver mais no presente ou fora dele, no passado ou no futuro. Assim, os indivíduos podem ser “primários” (se vivem para o presente) ou “secundários” (se vivem para o passado ou para o futuro).
Existem três fatores que exprimem a atitude geral do comportamento:
A secundariedade, que é a persistência de impressões, muito variável segundo os indivíduos, e que determina o caráter mais ou menos sistemático de sua conduta;
A amplitude do campo de consciência, que traduz o número, maior ou menor, de ideias, de imagens e de sentimentos diferentes que podem estar presentes na alma em um mesmo momento;
A polaridade, que distingue o tipo que procura dominar pela coerção, ou aquele que deseja seduzir ou encantar.
E existem quatro fatores que dizem respeito à direção das tendências:
A avidez, ou o desejo de aumentar o que se tem ou que se quer ter;
Os interesses sensoriais, que prendem ao mundo sensível e exercem grande papel na vida estética;
A ternura, que faz com que a pessoa se preocupe muito com os outros e se coloque espontaneamente “em seu lugar”;
A paixão intelectual, que mede não a inteligência, que é uma aptidão, mas a curiosidade, nosso desejo de compreender.
Ao longo das próximas semanas acompanhe as formações sobre cada temperamento. Antes, porém, busque observar-se mais dentro das 3 propriedades citadas na formação – emotividade, atividade e ressonância –, para assim, ir conhecendo-se mais a si mesmo.
Lembre-se do propósito: lutar pela Santidade, melhorando os pontos fortes e corrigindo os defeitos, sempre em oração!
Tudo por Jesus nada sem Maria!
Livro: “Prática de Caracterologia Religiosa” (Luigi Maria Rossetti, OMI. Editora Vozes Limitada. Petrópolis, RJ. 1965).
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