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A defesa da vida contra o aborto

29/04/2023 . Formações

 

Neste dia em que celebramos a memória de Santa Gianna Beretta Molla, médica italiana que foi declarada padroeira dos nascituros e das mães, rememoramos a sacralidade da vida, desde sua concepção até a morte natural.

 

A legalização (e até mesmo a normalização) do aborto, hoje apoiado por grande parcela da população, seria outrora impensável. A mudança na mentalidade da sociedade como um todo foi implementada pouco a pouco, a partir da Teoria Crítica, elaborada pelas correntes ideológicas marxistas. Esta teoria, que surgiu na Escola de Frankfurt, tem por objetivo questionar o status quo em nome da “liberdade” dos indivíduos, alvejando de maneira especial a desconstrução da instituição da família. O primeiro passo para que esta ideologia se perpetrasse foi a remoção dos pais do papel de educadores primários, permitindo então que esta função fosse exercida por agentes desse movimento. Enfraquecida a noção de família, o indivíduo tenderia então a não se preocupar com nada que não sua própria satisfação, sendo este egoísmo um facilitador para sua manipulação.

 

No entanto, a ideologia marxista não é a única culpada pela revolução cultural que tornou o aborto aceitável. Há também que se levar em conta o liberalismo radical, que prega uma noção pervertida de liberdade, que ao contrário do que hoje se defende, não é usar o livre arbítrio de forma desordenada em uma busca egoísta pelo prazer. No mundo neoliberal em que vivemos, é comum ouvirmos que a liberalização do aborto não feriria a consciência de ninguém, pois o que não se pode é restringir a liberdade do próximo e impor a ele determinado pensamento. No entanto, é evidente que existe grande diferença entre pluralismo ideológico e o pluralismo ético, porque aquele diz respeito a meras opiniões, enquanto este atinge diretamente a esfera de interesses de terceiros. Logo se vê que a liberdade de opinião não pode ser usada como justificativa para lesar o direito dos nascituros.

 

À luz da razão, o direito à vida se sobrepõe a todos os demais, uma vez que todo e qualquer direito que o homem possa ter pressupõe o direito à vida. À luz da fé, a vida é sagrada e inviolável, é um dom preciosíssimo concedido por Deus (cf. Gn 2, 7) assim como uma responsabilidade, pois devemos a administrar com sabedoria para a fazer frutificar (cf. Mt. 25, 14-30). Assim o considera a Igreja em sua tradição bimilenar, condenando unanimemente o aborto como pecado gravíssimo, na medida em que ofende diretamente o 5º mandamento da Lei de Deus (“não matarás!”), por muitas vezes se opondo aos costumes e ideologias das épocas. Quanto a este assunto, nas palavras de São Paulo VI, a doutrina da Igreja “não mudou; e mais, ela é imutável”.

 

São João Paulo II, em sua encíclica Evangelium Vitae, alerta os fiéis quanto ao que ele denominou cultura da morte, isto é, a contínua tentativa de desconstrução dos valores da vida e da família que a sociedade tenta nos impor. Vivemos hoje o que o saudoso Papa Emérito Bento XVI chamou de ditadura do relativismo, em que não se reconhece nada como definitivo, sendo a última medida o próprio eu e suas vontades.

 

“Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne”

Gal 5, 17.

 

Com a revolução sexual e a criação e propagação dos métodos anticoncepcionais, o ato sexual foi separado da procriação, possibilitando então que o prazer sexual fosse possível com a inibição total da fecundidade. A consequência disto foi a supervalorização da dimensão prazerosa da relação sexual que, acompanhada de uma mentalidade individualista e hedonista, fez crescer a aversão à natalidade. Soma-se a isto o fato de que o mercado econômico passou a comercializar a sexualidade, que hoje é explorada direta ou indiretamente para fins lucrativos.

 

Disto decorreu a banalização da sexualidade humana, contra a qual nosso co-padroeiro tanto lutou com sua série de catequeses conhecidas como A Teologia do Corpo, em que ele elenca que o oposto de amor não é o ódio, mas sim o uso egoísta do outro para seu próprio prazer. Os casais aceitam a função unitiva (pelo prazer) mas descartam a função procriativa, desordenando a sexualidade como Deus a concebeu e vivendo-a de maneira desregrada, sem aceitar as responsabilidades que vêm com o amor. Vemos uma geração egoísta, mais preocupada com seu próprio conforto que com a vida que foi gerada.

 

Como católicos, somos chamados a nadar contra a correnteza e, apesar dos gritos do mundo, que disfarça o aborto como defesa dos direitos da mulher, devemos permanecer firmes e cada vez mais ativos na defesa dos direitos do nascituro.

 

Que pela intercessão de Santa Gianna Beretta Molla, a quem o Senhor concedeu a coragem de

testemunhar a sacralidade da vida através da entrega da sua pela de sua filha ainda no ventre, possamos defender a vida desde a concepção até a morte natural.

 

Tudo por Jesus, nada sem Maria!

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