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Discernimento de Espíritos segundo Santo Inácio de Loyola – 9ª a 12ª regra

23/11/2022 . Formações

9a regra: O demônio atua com causa precedente.

O demônio sempre atua com uma causa precedente e não pode saber o que pensamos a menos que o façamos saber.

Somente Deus atua sem causas precedentes. Somente Deus pode atuar na pessoa humana sem nenhum sentimento ou pensamento prévio, isto é, sem causa precedente. Se, pois, percebo em mim uma consolação sem causa precedente, esta não poderá ser uma consolação enganosa sob aparência de bem. Posso acolher os pensamentos que dela brotam como atrações e moções vindas de Deus.

Por exemplo: a bem-aventurada Ana Maria Taïgi, estando em sua cozinha, recebeu de repente luzes da Santíssima Trindade; foi procurar seu confessor e lhe contou todas as revelações que tinha recebido. Seu confessor lhe perguntou: – “Lestes algum livro sobre a Santíssima Trindade? Assististes alguma prática? Passaste diante de alguma igreja?” — Definitivamente, não”. Não existem precedentes: é de Deus!

10a regra: O demônio usa de causa antecedente para nos enganar.

Os demônios podem, usando de causas antecedentes, “consolar” enganando uma alma, para obter dessa mais malícia e mediocridade. Com causa precedente tanto o bom anjo quanto o mau anjo podem consolar, mas para fins opostos: o bom anjo para proveito da alma, para que cresça e suba de bem para melhor; e o mal anjo para o contrário e, posteriormente, para induzi-la à sua intenção danosa e malícia. A princípio, não se vê quem é que empurra. Mas pelos frutos se conhece a árvore.

Não esquecer o princípio: o demônio, finalmente, quer conduzir-nos ao mal, embora a princípio nos conduza ao bem, é por isso que se diz: “O melhor às vezes é inimigo do bom”. O bom Espírito, pelo contrário, não deseja senão unicamente o bem. Pelo que se deve observar atentamente, de perto, e durante algum tempo.

Em outubro de 2018, referindo-se ao trecho do Evangelho de Lc 11, 15-26, disse o Papa Francisco:

«O demónio ou destrói diretamente com os vícios, com as guerras, com as injustiças — explicou ainda o Papa — ou destrói educada e diplomaticamente, desta maneira traçada por Jesus». Em suma, acrescentou, «não fazem barulho, fingem-se amigos, persuadem-te — “não, vai, não é muito, não, mas até aqui está bem” — e levam-te pelo caminho das mediocridades, fazem de ti um “tíbio” pelo caminho da mundanidade». Não é fácil aperceber-se: « “Padre, eu em casa não tenho um inimigo” — “Mas repara, quando vais dormir, entre os lençóis há um escorpião” — “Mas é um escorpião amigo, não faz mal”». E fazendo assim «caímos nesta mediocridade espiritual, neste espírito do mundo: “Mas não são tão más estas coisas”». E «o espírito do mundo arruína-nos, corrompe-nos a partir de dentro».

11a regra: O demônio quando quer enganar uma alma lhe propõe que faça um bem que leve a alma a uma zona de conforto.

Os demônios quando querem enganar uma alma que luta para ser de Deus não lhe propõe que faça um mal, mas um bem que leve a alma a um estado de letargia espiritual ou zona de conforto. Esta é a conduta habitual que o demônio segue quando deseja enganar uma alma fervorosa: não lhe propõe que faça o mal, pois ela reagiria; propõe-lhe que faça o bem. Mas não importa qual bem, senão um bem que se acomode a seus gostos. Não desagrada fazer aquilo que se sabe fazer. Mas logo, pouco a pouco, induz a alma a que se desvie. É próprio do anjo mau, que se transforme sob aparência de anjo de luz, entrar com a alma devota, e sair consigo; a saber, trazer pensamentos bons e santos conforme as disposições de tal alma justa, mas depois, pouco a pouco, procurar impelir essa alma a seus enganos ocultos e perversas intenções.

Por exemplo, o demônio procura pleito com um sacerdote fervoroso: “Perdes demasiado tempo com a contemplação, as almas esperam por ti”. E faz que falte a oração. O demônio conseguiu enganar ao Cura d’Ars em pelo menos em duas ocasiões, pois, muito esperto, observava de perto as virtudes do santo: seu ódio ao pecado, amor à penitência e à oração… E assim, por isso, colocou-o: — Vá fazer grandes penitências, vá levar uma vida contemplativa… E o Cura d’Ars se deixou enganar.

12a regra: A força do exame de consciência para evitar brechas.

Quando se perceba a presença do inimigo de Deus rondando, examinar minha consciência, minhas ações, para ver se não estou dando brecha. Deus não quer que os demônios, nossos inimigos, possam atacar-nos sem que tenhamos um “radar” para detectá-los. Daí a importância dos exames de consciência. “Vigiai e orai”, disse e repetiu Jesus no Evangelho. Infeliz do cristão que não esteja prevenido! O demônio se lançará em sua alma tanto quanto quiser. O homem não se dará conta de nada se não estiver alerta.

Quando a presença do inimigo da natureza humana for sentida e conhecida sua cauda serpentina e o mal fim a que induz, a pessoa que foi tentada por ele fará bom proveito se logo prestar atenção na cadeia de bons pensamentos que teve, e o princípio deles, e como pouco a pouco procurou fazê-lo descer da suavidade e gozo espiritual em que estava, para trazê-la à sua intenção depravada; para que com tal experiência conhecida e notada, guardar-se diante futuros enganos usuais.

Que propôs o demônio ao Cura D’Ars? Afastar-se do horror do pecado, ingressar na vida contemplativa… Vejam bem os sofismas com os quais o demônio tem enganado vocês, os erros que têm cometido, se abandonaram a oração, as leituras espirituais, se perdem tempo lendo periódicos, revistas… Se descuidam seus exames de consciência, se tomaram alguma advertência, mas não prestaram atenção; se não confessaram certas imprudências a seu diretor espiritual etc. Assim, pouco a pouco, o demônio os faz perder seu fervor inicial… Ganharão muito em experiência, e força para a batalha no conhecimento de vocês mesmos, se lograrem saber como sair das armadilhas em que o demônio os têm metido. Uma vez que, geralmente, o demônio se repete, ele tentará fazê-los cair em raciocínios em que haviam caído anteriormente. Observem, examinem o desenvolvimento dos bons pensamentos, aí encontramos um método muito valioso para fazer exame.

Leia mais: FRANCISCO, Papa. Quando o diabo se finge educado. Publicado no L’Osservatore Romano, ed. em português, n. 43 de 25 de outubro de 2018

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