O Catecismo nos ensina que o tempo da Quaresma é propício para revivermos o caminho das tentações de Jesus no deserto em preparação para a sua vida pública, sendo um tempo particularmente apropriado aos exercícios espirituais, às peregrinações em sinal de penitência, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, e à partilha fraterna (cf. CCE 540 e 1438).
Seguindo nosso Caminho, é fundamental não esquecer da primazia do amor (caridade) entre todas as virtudes existentes, lembrando que se não houver amor de nada adianta possuir todos os dons e virtudes – fé, línguas, profecia, conhecimento, ciência, partilha de todos os bens, etc (cf. 1Cor 13,1-3). Para isso, nada melhor do que prosseguir esse Caminho da Luz, depois de abrir o coração para o Pai, seguindo rumo ao coração de Deus, experimentando o Seu amor, de forma que, sentindo-nos amados por Aquele que nunca desiste de nós, possamos transbordar esse amor para o próximo, vivendo, assim, o mandamento do amor dado por Jesus (cf. Jo 13,34; 15,12), atitude fundamental para, ao invés de julgar, amar nossos irmãos.
PERSEVERANÇA
(cf. O Caminho da Luz, Cap. 9) – “Tende por motivo de grande alegria o serdes submetidos a múltiplas provações, pois sabeis que vossa fé, bem provada, leva à perseverança; mas é preciso que a perseverança produza obra perfeita” (Tg 1,2-4). Após ter tido, o encontro com Jesus, cabe-nos a tarefa de manter a chama acesa e perseverar em meio as tentações, lembrando-nos sempre que esse encontro com Deus é pessoal, dependendo exclusivamente de nós mesmos, e que começar é a parte mais fácil, mas perseverar é uma atitude dos Santos. O grande segredo está em colocar Cristo como centro de nossas vidas e dialogar de coração a coração com Deus, através de uma oração perseverante, abandonando-nos nos braços do Pai, baseando nossa fé no divino, colocando nossas dificuldades e nossa vida em Suas mãos. Ele receberá nossos sofrimentos, angústias e medos e nos ajudará a suportá-los. Devemos ser como crianças em Seus braços e Ele nos levará a descobrir o Céu na Terra. Perseveremos no amor de Deus e peçamos a graça de que nossa alma seja uma com Ele.
AMOR
(cf. O Caminho da Luz, Cap. 10-12) – “Venha a mim o vosso amor e viverei” (Sl 118,77). Nossos próximos passos em direção à Luz relacionam-se diretamente ao verdadeiro amor: aquele que o coração humano busca e tem sede, sendo encontrado unicamente em Deus. Um amor diferente das paixões frívolas deste mundo, que não conseguem nos satisfazer, são incapazes de nos fazer chegar à plenitude e nos levam a certezas e verdades humanas não consistentes, por se basearem em coisas passageiras, como poder, fama, dinheiro e orgulho.
O amor de Deus, quando entra em nossa vida, realiza-nos e torna-nos capazes de amarmos mais e melhor nossas vocações no matrimônio, na vida consagrada, no trabalho e no dia a dia. Sem esse amor não conseguimos perseverar na fé. Por isso, devemos rogar ao Espírito Santo a capacidade de reconhecer o amor do Pai por nós e a de termos a certeza desse pleno e infinito amor, olhando para as coisas do Alto, desejando sempre buscar e encontrar Deus. Devemos, então, conscientizar-nos, estar seguros desse amor e repetir que Deus nos ama, nos dá a vida e, consequentemente, nunca experimentaremos a solidão e vazios na alma.
Para tal, temos que abrir nosso coração, criando com Deus uma relação de intimidade que excede o humano e pedindo a Ele que se revele como nosso Pai. Nosso coração se inflamará e brotarão virtudes anteriormente desconhecidas, como a gratidão, o reconhecimento dos dons, bens e graças que Dele recebemos gratuitamente, a “reposta do amor”, por meio das obras e ações, a pertença a Ele e a obediência. Enfim, nos comportaremos como verdadeiros filhos Dele, confiando e esperando Nele.
PACIÊNCIA
(cf. O Caminho da Luz, Cap. 13-14; e ROSSI, Introdução) – “Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração” (Rm, 12,12). Seguimos nosso Caminho, abordando, refletindo e exercitando a paciência, virtude de grande importância na vida espiritual, essencial para descobrirmos, entendermos e realizarmos os planos que Deus possui para nós. Inicialmente, devemos nos conscientizar que o tempo de Deus (kairós) é o momento oportuno ou certo em que algo especial acontece, não cabendo a nós conhecê-lo, e o Seu tempo é distinto do nosso tempo cronológico e quantitativo (khronos).
Temos que respeitar o kairós, seguindo o ritmo Dele, o que, em nossos dias, com o acúmulo de tarefas, a cultura da pressa e do imediatismo, gera ansiedade e outros problemas. O segredo está em “esperar no Senhor”, deixando que Ele tome o primeiro lugar em nossas vidas, confiando e seguindo o ritmo que o Espírito Santo nos sussurra, além de entendermos que devemos priorizar a qualidade das ações em detrimento da quantidade, aceitando a vontade do Pai.
A paciência, virtude dos fortes, que conseguem suportar as demoras de forma vigilante, orante e atuante, amadurece-nos, torna-nos livres para nós mesmos e para Deus, fazendo-nos resistir às adversidades, com serenidade, sem deixar de buscar a Cristo em virtude de feridas causadas pelo próximo ou por acontecimentos. Ao contrário, suportamos essas dificuldades amando, perdoando e rezando por aqueles que nos fazem algum mal. Por isso, devemos sempre exercitar a paciência nas pequenas coisas do dia a dia, a fim de que não cansemos de fazer o bem e de esperar a realização das promessas de Deus, que se realizam no tempo certo.
MISERICÓRDIA
(cf. O Caminho da Luz, Cap. 15-16) – “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36). Por fim, para experimentarmos o amor de Deus é essencial ter a plena consciência de Sua infinita misericórdia e, acreditando nesse Seu maior tributo, exercermos a misericórdia com o próximo, perdoando-os. O Pai conhece nossas fraquezas e humanidades e, de forma distinta dos critérios de julgamento e crítica humanos, Ele se compadece de nós. Por isso, não devemos nos cansar de pedir a Sua misericórdia, através do Sacramento da Penitência, acreditando no perdão e na piedade divina. Acolhamos o perdão e sejamos misericordiosos para com todos!
Exercitemos ainda mais o carisma de não julgar, mas amar o próximo, com suas deficiências e dificuldades, principalmente aqueles que mais nos custam! Meditemos a respeito da vitória da misericórdia divina sobre o nosso pecado, ocorrida no mistério da paixão e morte de Jesus! Aceitemos com amor e alegria os sofrimentos que o Senhor nos permite viver, sabendo que essas cruzes nos levarão à alegria eterna e que, quanto maior a cruz, maior será a misericórdia divina. Sejamos solidários aos sofrimentos alheios, estando sempre disponíveis para servir a Jesus no próximo, e ofereçamos os nossos sacrifícios e sofrimentos à redenção das almas. Peçamos a graça de entendermos que a cruz não é para nós um sinal de dor ou medo, mas de amor a Jesus, que nos levará à redenção e salvação eterna. Basta confiar e seguir a Jesus na certeza da vitória!
TUDO POR JESUS, NADA SEM MARIA!
Nota:
Este texto é uma reflexão sobre o livro Caminho da Luz (Experimente o amor de Deus), de autoria do Rev. Pe. Alexandre Paciolli, iCM, servo-fundador da Comunidade Católica Olhar Misericordioso.