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“Começar é de muitos, perseverar é de santos” – Virtude da perseverança

17/11/2022 . Formações

“A conversão é coisa de um instante. A santificação é obra de toda a vida” (ESCRIVÁ, 285). “Começar é de todos; perseverar, de santos. Que tua perseverança não seja consequência cega do primeiro impulso” (ESCRIVÁ, 983).

O que é?

A perseverança é uma virtude derivada da virtude cardeal da fortaleza no que diz respeito a ação ou dimensão da fortaleza de suportar por Deus coisas difíceis, como as provações que Ele nos envia e as perseguições, enfrentá-las e a elas resistir, lutando e sofrendo até o fim, sem render-se ao cansaço, ao desencorajamento e à indolência (cf. CCE 1808; FAUS p. 94; TANKEREY 1077 e 1093). Poderia ser definida como “a persistência no exercício de obras virtuosas apesar da dificuldade e do cansaço derivado de sua demora no tempo” (SANTI).

Santo Tomás ensina que é próprio da perseverança “persistir” no bem que começamos, sem abandonar a luta pela dificuldade da “duração”, uma vez que o esforço se prolonga, cansa, é monótono e, por isso, impacienta (cf. FAUS p. 94). Este Santo doutor agrega que “persistir longamente num bem até a sua consumação constitui uma virtude especial” e que “a perseverança é uma virtude especial à qual é próprio, nessas ou noutras obras virtuosas, persistir diuturnamente, conforme for necessário” (AQUINO, II-II, q.137, a.1).

Perseverança e constância

Acrescenta, ainda, que “a perseverança é digna de louvores por nos fazer não abandonar um bem que exige que soframos dificuldades e trabalhos diuturnos” (AQUINO, II-II, q.138, a.1). Virtude gêmea da perseverança relacionada à persistência no bem, sem desistir quando aparecem obstáculos inesperados (cf. FAUS p.94). Por isso, costuma-se falar de constância quando se trata de vencer a tentação de abandonar o esforço perante o aparecimento de um obstáculo concreto” (SANTI).

Santo Tomás esclarece perfeitamente a respeito destas virtudes, a relação entre elas e suas importâncias: “a perseverança e a constância têm o mesmo fim, porque ambas nos fazem persistir com firmeza no bem; mas, diferem conforme as dificuldades que nos fazem vencer para persistirmos no bem. Assim, a virtude da perseverança propriamente nos faz persistir no bem, vencendo as dificuldades provenientes da duração prolongada do ato; ao passo que a constância nos faz persistir no bem vencendo as dificuldades procedentes de quaisquer obstáculos externos. Por onde, a parte mais principal da coragem é a perseverança e não a constância; porque, a dificuldade proveniente da diuturnidade do ato é mais essencial ao ato da virtude, do que a procedente dos obstáculos externos.”(AQUINO, II-II, q.137, a.3)

Perseverança é um dom de Deus

A perseverança, como todas as virtudes infusas, necessita do dom da graça habitual e, para que dure até o fim da vida, conservando-nos no bem, necessita do auxílio gratuito de Deus. Alcança-se esta graça e obtêm-se este dom de Deus por meio da oração, pedindo com insistência, em união com Cristo e por interseção da Virgem fiel. Como ensina nosso servo fundador, pe. Alexandre Paciolli, iCM, a perseverança é um dom de Deus, dos Céus, e somente pela força do Espírito Santo somos capazes de levar dia após dia os planos de Deus para nós (cf. AQUINO, II-II, q.137 a.4; Meditatios Pe. Alexandre Paciolli, iCM 25ABR19 e 01FEV21; e TANKEREY 1094).

O Catecismo ressalta, ainda, a importância desta virtude para a elevação e purificação de todas as virtudes humanas, ao ensinar que as essas virtudes são adquiridas pela educação e por atos deliberados, sendo purificadas e elevadas pela graça por uma perseverança sempre renovada com esforço. Lembra-nos também que o dom da salvação, trazido por Cristo, concede-nos a graça necessária para perseverar na conquista das virtudes (cf. CCE 1810-1811; FAUS, Caps. 15 e 16).

Oração e perseverança

(cf. CCE 162, 1821, 2016, 2726, 2728 e 2742-2745; ESCRIVÁ, 100, 101 e 927; Meditatios Pe. Alexandre Paciolli, iCM 27NOV18 e 25ABR19; e O Caminho da Luz, Cap. 9)

Para perseverarmos na fé até o fim, devemos alimentá-la com a Palavra de Deus, com a oração e implorar ao Senhor que a aumente. Devemos esperar, com a graça de Deus, a perseverança final e alcançar a alegria do céu como recompensa eterna de Deus, pelas boas obras praticadas com a sua graça, mas, para não desanimar frente à aridez, às tristezas, aos sofrimentos, às cruzes, aos orgulhos, às decepções por não termos nossas vontades e planos realizados ou orações atendidas, e superar os obstáculos, precisamos rezar continuamente, com humildade, confiança e perseverança. Essa oração perseverante deve ser feita colocando Cristo como centro de nossas vidas e dialogando de coração a coração com Deus, abandonando-nos nos braços do Pai, baseando nossa fé no divino, colocando nossas dificuldades e nossa vida em Suas mãos. Ele receberá nossos sofrimentos, angústias e medos e nos ajudará a suportá-los. Devemos ser como crianças em Seus braços e Ele nos levará a descobrir o Céu na Terra.

Como perseverar?

Um dos fatores fundamentais para perseverar é a existência de um ideal para empreender e executar coisas difíceis, um ideal pelo qual valha a pena viver e morrer. Não existe ideal melhor que a santidade para nos ajudar a persistir no caminho de seguir a Jesus. Por isso, temos que “reforçar” todos os dias esse ideal e rogar a Deus para não perdermos o foco com os inimigos da alma, que nos levam ao pecado. Que nosso desejo de santificação não se reduza a um instante, como um brilho de um fogo de artifício, mas que seja obra de toda a vida e que nossa perseverança não seja apenas consequência de um primeiro impulso! (cf. ESCRIVÁ, 247, 285, 644, 910, 983 e 987; e FAUS, p. 85-86).

“Aquele que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 10,22).

Devemos, ainda, encarar as dificuldades como desafios e estes devem nos motivar, sempre pensando nos santos e nos apostolados fecundos, lembrando que as dificuldades nos fazem crescer e nos purificam e que não se fracassa, mas adquire-se experiência. Ter a plena disposição de levantar-se após cada fracasso, perseverando no amor e clamando a Misericórdia de Deus. Ademais, devemos sempre pensar na brevidade da vida frente a duração interminável do prêmio que se aspira, e apoiar-nos na graça onipotente de Deus, lembrando que Ele não pede o sucesso, mas o esforço (cf. ESCRIVÁ, 290 e 324, FAUS Cap. 28, Meditatio Pe. Alexandre Paciolli, iCM 15SET19, e TANKEREY 1094).

Obstáculos à perseverança

(cf. ESCRIVÁ, 983, 988, 994, 995 e 999; e Meditatios Pe. Alexandre Paciolli, iCM 27ABR17, 06JUN17, 13ABR18, 18MAI18, 27NOV18, 01FEV19, 07ABR19, 25ABR19, 31JUL19, 17AGO19, 08JUN20 e 21FEV21)

Os obstáculos mais frequentes à perseverança são:

  • a falta de fé (o enfraquecimento da fé), o principal;
  • a soberba, o mais frequente; o ambiente do mundo;
  • o descuido na luta pela fidelidade nas pequenas coisas;
  • o sentimentalismo;
  • a fraca vida de oração;
  • o estado de ânimo (deixar-nos levar pelo estado de ânimo negativos – desânimo);
  • o deixar-nos influenciar por maledicências ou mal exemplos e começar assim a duvidar do plano de Deus;
  • a preguiça;
  • o desleixo no amor ou a falta de amor (o não viver com amor as pequenas coisas do cotidiano);
  • o descuidar da vida de graça;
  • a superficialidade na vida espiritual (faz com que a perseverança dependa dos outros e não de Deus);
  • o basear a perseverança em emoções ou entusiasmos iniciais (em um primeiro impulso);
  • as escolhas errôneas, fora da vontade de Deus; e o isolamento.

Segredos da perseverança

(cf. ESCRIVÁ, 45, 129, 482, 534, 695, 733, 813, 819, 823, 994, 995, 997 e 999; FAUS, p. 51-52; e Meditatios Pe. Alexandre Paciolli 09ABR18, 13ABR18, 18MAI18, 01 e 28FEV19, 07 e 25ABR19, 17AGO19, 26AGO20, 07DEZ20 e 01FEV21) –

Os principais segredos para manter a perseverança são:

  • espírito de combate (desejo de lutar pela santidade e remar contra a maré);
  • paciência, especialmente nos sofrimentos; fidelidade no pouco;
  • não abandonar os ideais nas prosperidades (quando se recebe uma graça);
  • não depender do estado de ânimo, dos outros, ou de fatores externos para seguir em frente e fazer a vontade de Deus;
  • decisão e esforço pessoal;
  • olhar fixo em Jesus e em sua misericórdia infinita;
  • entregar-se por amor e para o Amor; buscar um encontro pessoal com Deus e com Maria, vivê-lo profundamente, entregando-se, ouvindo e confiando Nele;
  • enxergar o sobrenatural no ordinário da vida, nas pequenas coisas;
  • alegria interior;
  • otimismo;
  • Santa Missa, preferencialmente diária;
  • vida de oração; profundidade na vida espiritual;
  • sacramentos, especialmente a eucaristia (preferencialmente diária) e a confissão (ao menos quinzenal);
  • sacrifícios e mortificações dos sentidos, especialmente dos desejos da carne;
  • estar no mundo sem ser do mundo, não se importando com os outros falam de nós;
  • humildade para levantar-se após cada queda;
  • e amar a dor e aceitar sem restrições a vontade de Deus.

Como essa formação pode te ajudar? Releia os principais obstáculos e segredos da perseverança, reforçando ou redefinindo o seu ideal de vida, pelo qual vale a pena morrer, e reafirmando o propósito, a decisão e o esforço pessoal de persistir neste difícil e duro, mas compensador, caminho de santidade, ciente da brevidade da vida terrena frente a duração interminável do prêmio de vida eterna que se aspira.

Leia mais

AQUINO, Tomas, Santo. Suma Teológica. p. 2549-2556 (II-II, Questões 137 e 138)

Catecismo da Igreja Católica (CCE) 162, 1803-1805, 1808, 1810, 1821, 1837, 2016, 2726, 2728, 2742-2745

ESCRIVÁ, Josemaría, Santo. Caminho. 45, 100, 101, 129, 247, 285, 290, 324, 482, 534, 644, 695, 733, 813, 819, 823, 910, 927, 983, 987, 988, 994, 995, 997 e 999

FAUS, Francisco. A Conquista das Virtudes. Capítulos 15, 16, 24, 25 e 28

Meditatios Pe. Alexandre Paciolli relacionadas à Perseverança.

O Caminho da Luz. Uma jornada de quatro semanas rumo ao coração de Deus. Capítulo 9

SANTI, S. Paciência e Perseverança.

TANKEREY, Adolphe. Compendio de Teologia Ascética e Mística. 1076-1077, 1082, 1093-1094

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